A Ciência do Amor: Explorando a Teoria do Apego

A Ciência do Amor: Explorando a Teoria do Apego

John Bowlby, psicólogo britânico, revolucionou o entendimento sobre o apego ao demonstrar que ele não é exclusivo da infância, mas um instinto presente ao longo de toda a vida. Sua teoria destaca que os comportamentos humanos devem ser analisados dentro de seus contextos. Inicialmente, Bowlby investigou o vínculo entre mães e filhos, sublinhando a importância da segurança emocional no desenvolvimento infantil. Esse conceito foi reforçado pelo trabalho de Harry Harlow, cujos experimentos realizados entre as décadas de 1950 e 1960 trouxeram evidências marcantes sobre a natureza do apego.

Harlow buscava compreender o que realmente forma o vínculo entre mães e filhos: seria apenas a satisfação de necessidades físicas, como alimentação, ou algo mais profundo, como conforto emocional? Para responder a essa pergunta, ele criou um ambiente controlado com macacos recém-nascidos separados de suas mães biológicas logo após o nascimento.

O Experimento das “Mães Substitutas”:

Harlow desenvolveu duas “mães substitutas” artificiais para os macacos, colocadas na mesma gaiola:

  1. A “Mãe de Arame”:
    • Construída com arame rígido.
    • Equipava uma mamadeira que fornecia leite.
  2. A “Mãe de Pano”:
    • Coberta com tecido macio, simulando um toque acolhedor.
    • Não oferecia alimento.

Embora ambas estivessem disponíveis para os macacos o tempo todo, os resultados revelaram uma forte preferência pela “mãe de pano”.

  • Conforto vs. Alimentação: Os macacos passavam a maior parte do tempo agarrados à “mãe de pano”, buscando conforto emocional. Só se aproximavam da “mãe de arame” para se alimentar rapidamente, retornando em seguida à “mãe de pano”.
  • Resposta ao Estresse: Diante de situações estressantes, como sons altos ou ambientes desconhecidos, os macacos corriam para a “mãe de pano” em busca de segurança. Esse contato reduzia significativamente os sinais de estresse.
  • Desenvolvimento Emocional: Macacos privados de conforto emocional apresentaram comportamentos anormais, como dificuldade de interação social, ansiedade e agressividade. Já aqueles que puderam interagir com a “mãe de pano” demonstraram maior equilíbrio emocional.

Além de conforto, a “mãe de pano” proporcionava uma sensação de segurança, conceito que Bowlby chamou de “base segura”. Essa noção foi posteriormente ampliada pela Teoria Polivagal, desenvolvida por Stephen Porges, que explica como nosso sistema nervoso responde ao ambiente com base em sensações de segurança ou ameaça.

A Teoria Polivagal

A Teoria Polivagal explora a relação entre o sistema nervoso autônomo e comportamentos sociais, emocionais e físicos. Segundo Porges, o sistema nervoso alterna entre três estados principais:

  1. Estado de Segurança (Vagal Ventral):
    • Quando nos sentimos seguros, o sistema vagal ventral está ativo, promovendo calma, conexão social e aprendizado.
    • No experimento, a “mãe de pano” ativava esse estado nos macacos, permitindo que explorassem o ambiente com confiança.
  2. Estado de Alerta (Simpático):
    • Diante de ameaças, o sistema simpático desencadeia a resposta de luta ou fuga.
    • Sem a “mãe de pano”, os macacos exibiam sinais de estresse e dificuldades para lidar com o ambiente.
  3. Estado de Imobilidade (Vagal Dorsal):
    • Em situações extremas, ocorre a imobilização, um estado de proteção que pode levar à desconexão emocional.
    • Macacos privados de conforto emocional por longos períodos apresentaram comportamentos semelhantes à dissociação, associados a esse estado.

Essa regulação do sistema nervoso demonstra como a segurança é fundamental para o crescimento, permitindo exploração, aprendizado e conexão.

Tipos de Apego na Infância

Bowlby identificou que as estratégias de apego variam de acordo com o ambiente em que a criança cresce:

  1. Apego Ansioso:
    • Em ambientes onde o cuidador responde apenas a manifestações intensas de emoção, a criança aprende a amplificar seus sentimentos para obter atenção.
    • Na vida adulta, isso pode se traduzir em um comportamento de “buscador emocional”.
  2. Apego Evitativo:
    • Quando o cuidador evita lidar com emoções, a criança reprime seus sentimentos para se adaptar.
    • Isso resulta em um padrão de apego evitativo, onde o adulto evita vulnerabilidade emocional.

Esses padrões, embora funcionais na infância, podem afetar os relacionamentos futuros, exigindo um esforço consciente para desaprender estratégias e construir vínculos mais saudáveis.

A Teoria do Apego também se aplica aos relacionamentos adultos, especialmente os românticos. Casais formados por um parceiro ansioso e outro evitativo frequentemente entram em ciclos de conflito, nos quais um busca proximidade enquanto o outro se retrai.

Relações seguras desempenham dois papéis fundamentais:

  • Base de Segurança: Proporciona conforto em momentos de crise.
  • Plataforma de Crescimento: Oferece suporte para exploração e aprendizado.

Esses princípios reforçam como a Teoria do Apego pode transformar relações, incentivando curiosidade, vulnerabilidade e conexões mais saudáveis.

 

Referências:
Ideia do texto extraída de: A Ciência do Amor: A Teoria do Apego. YouTube, Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9idayJyWCWs.

Outras referências:

BOWLBY, John. Attachment and loss: Volume 1. Attachment. 2ª ed. Nova York: Basic Books, 1982.

HARLOW, Harry F.; HARLOW, Margaret K. The affectional systems. In: SCHIER, Paul (ed.). Behavior of nonhuman primates. Nova York: Academic Press, 1965, p. 287-334.

PORGES, Stephen W. The polyvagal theory: Neurophysiological foundations of emotions, attachment, communication, and self-regulation. Nova York: W.W. Norton & Company, 2011.

 

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