Sou onde não penso, penso onde não sou.

“Penso, logo existo”, ou em francês “Je pense, donc je suis”  Essa é a famosa frase do filósofo René Descartes escrita em 1637 e está no livro Discurso do Método, anos depois Freud irá reformular essa frase dizendo “Existo onde não penso” trazendo o primeiro esboço teórico do que viria a ser o objeto de estudo da psicanálise: a noção do inconsciente, aquele que guardaria a nossa real identidade.

Algum tempo depois essa ideia de Freud será complementada por Lacan com a frase “Sou onde não penso, penso onde não sou” trazendo a ideia do inconsciente “sou onde não penso” e o consciente “penso onde não sou”.

Para Lacan a consciência seria uma mera ilusão, contrapondo firmemente as teorias psicológicas norte-americanas que trazem a ideia do homem EGO, centro do seu próprio universo, controlador e mentalizador de suas ideias mas que na verdade não controla seus próprios pensamentos e desejos.

Sou onde não penso porque é justamente lá onde não há certezas, onde se desfazem as camadas camufladas pelo pensamento que se revela o sujeito, é lá na ausência, no silêncio, que está a realidade psíquica de cada um, indo de encontro também com a filosofia budista e com um dos objetivos da meditação, encontrar no vazio e no silêncio uma conexão com o verdadeiro EU.

Penso onde não sou trata-se da nossa parte consciente reflexiva que nos permitem interagir com o mundo externo, nossa linguagem, nossas máscaras.

Em um exemplo simples mais um tanto quanto radical é como se nós seres humanos fossemos marionetes agindo sem saber muito bem porquê e nosso titereiro (quem controla a marionete) é o inconsciente. O pensar, a linguagem, seria a camuflagem do real, como uma boneca russa “matrioshka” que tem diversas camadas que ao serem abertas revelam a boneca principal, ou nosso verdadeiro EU.

Lacan ainda nos diz que seria ingenuidade acreditar que exista um “Ser pensado”. Ou seja, o pensar não garante uma existência, o que nos remete à falta de garantias que se situa tanto do lado do Ser como do pensar.

Autora: Danielle Vieira – Psicóloga em Bragança Paulista e São Paulo e fundadora do IIPB, CRP 06/131376.

 

 

 

 

 

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