Felicidade, prazer e realidade.

Quando pensamos em felicidade você pode logo imaginar situações, pessoas e coisas que te fariam ser feliz, mas cada pessoa parece ter elementos próprios que compõem essa fantasia de felicidade plena e ainda assim, parecem também existir modelos pré fabricados pela sociedade em que nos encaixamos e que podem variar dependendo do meio em que se vive.

Muito já se falou sobre felicidade e obtenção de prazer mas com a ampliação dos meios de comunicação e com a implementação de sistemas econômicos que passam a ideia de que o sujeito pode obter tudo o que deseja, podemos pensar que felicidade é obter aquilo que se deseja mas felicidade é principalmente a ausência de um mal-estar, ou seja, um estado completo de bem-estar e plenitude. Isso fica claro quando ouvimos a demanda dos pacientes na clínica, quando o paciente chega ao consultório quase nunca fala em adquirir auto conhecimento para viver melhor, mas fala sobre o desejo de “tirar a dor”, anestesiar ou aliviar aquilo que está incomodando, atrapalhando.

Não à toa os livros mais vendidos são de “auto ajuda” e possuem títulos como: “10 maneiras de alcançar sucesso”, “5 passos para vencer a angústia”, “os 20 segredos das pessoas bem sucedidas”, “como fazer amigos”, “como encontrar seu amor”, como se obtendo essas informações, geralmente numeradas em passos rápidos, trilhando os caminhos de uma outra pessoa, você também pudesse chegar lá, no caso “lá” seria o lugar da felicidade e sucesso absoluto.

Será que é possível chegar nesse lugar? Será que é tão ruim assim não ter ou ser tudo o que se deseja? Afinal, somos seres desejantes e o desejo precisa continuar vivo para que o sujeito também permaneça vivo, do contrário se não há desejo há uma morte psíquica.

É muito fácil nesse sistema em que vivemos acreditar que existe um outro que alcançou a plenitude, que possui uma vida de prazeres, dinheiro, bens, um amor perfeito, uma família ideal, um corpo esculpido, festas, viagens e tudo aquilo que parece vender bem como a fórmula do sucesso. Resta ao sujeito comparar sua realidade e com isso sentir uma imensa frustração, a dor do não ter e do não ser e mais do que isso, a dor de achar que alguém tem ou é.

É nessa onda de intolerância, seja ela à lactose, à glúten ou à frustração que parecemos criar a “sociedade dos intolerantes”, aqueles que não suportam o mínimo de desconforto pois demandam que a vida seja repleta de prazer e buscam muitas e muitas vezes anestesiar a dor com bebidas, drogas, comida em excesso, festas, sexo compulsivo e diversos outros mecanismos criados para que o sujeito possa sair de sua realidade e experimentar o mundo da fantasia eterna, onde a dor não pode alcançá-lo, sem perceber que a dor mora lá dentro mesmo e que ao invés de anestesiar ele precisa suportá-la e tratá-la.

E talvez ser feliz esteja justamente no meio termo, entre o prazer e a realidade, uma vez que viver somente em um dos dois polos é insustentável a longo prazo e para não se entregar aos extremos é preciso ter muita tolerância.

“Essa felicidade que supomos

(…)

Existe, sim: mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos”

(Vicente de Carvalho-1866-1924)

 

Essa matéria tem caráter informativo, se você se identificou com algum sintoma procura ajuda profissional de um psicólogo.

Autora: Danielle Vieira – Psicóloga em Bragança Paulista e São Paulo e fundadora do IIPB, CRP 06/131376.

 

 

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