Jovens que não saem de casa, impactos de uma geração hiperconectada.

Já é possível saber os impactos de uma geração hiperconectada?

A geração hiperconectada chamada de iGen e caracterizada por jovens que nasceram após 1995, é tema de uma pesquisa interessante que se tornou um livro da autora Jean Twenge chamado: “Por que as crianças super conectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta.”

Constantemente ouvimos que essa nova geração está crescendo muito rápido e que se desenvolvem de maneira impressionante mas não é isso que a pesquisa mostra, pelo contrário, cada vez mais jovens agem como se tivessem menos idade do que realmente tem, o amadurecimento parece não acompanhar a idade biológica, ainda segundo a pesquisa, esses jovens sentem-se cada vez mais seguros fisicamente porém cada vez mais vulneráveis mentalmente liderando os piores índices de saúde mental que já tivemos mundialmente.

A autora faz uma comparação interessante, quando compartilha sua experiência de mais de 20 anos pesquisando gerações e seus comportamentos, quando traz as diferenças entre a geração X (nascidos entre 1960 a 1980) e os Millennials (nascidos entre 1980 e meados dos anos 90) e explica como essas mudanças foram gradativas em 10 ou 20 anos porém a partir de 2012 as mudanças comportamentais e emocionais foram bruscas entre os jovens e os gráficos de mudanças passaram de gráficos em linhas constantes para montanhas com altos e baixos impressionantes.

Afinal, o que mudou tão bruscamente de 2011/2012 para cá?

Segundo a autora, a mudança tem a ver com a aquisição de smartphones com acesso à internet. Os iGen são a primeira geração a entrar na adolescência com os smartphones.

Quais são os resultados dessa adolescência hiperconectada?

De acordo com a pesquisa existe um impacto já identificado: Esses jovens saem cada vez menos de casa e estão menos propensos a dirigir, trabalhar, fazer sexo e beber álcool.

Muitos estudos ainda estão em andamento e precisamos de muita investigação sobre o tema para compreender como estamos mudando nossa maneira de nos relacionarmos com o mundo e com nós mesmos a partir dessa hiperconexão.

A geração iGen, parece evitar tudo aquilo que pode tirá-los da zona de conforto ou colocá-los à prova, como sair para o mundo, relacionar-se com pessoas fisicamente, envolver-se emocionalmente, o que é um sinal de que estamos tratando de adolescentes inseguros e imaturos que se defendem da vida, nesse sentido os smartphones são uma ferramenta e tanto de proteção, uma vez que o mundo se torna On demand, onde podemos ter aquilo que queremos na hora exata em que queremos em um ambiente controlado, seja um prato de comida, um jornalista personalizado que te passe as notícias do dia ou até sexo casual, tudo isso na palma da mão.

Sabemos que aquilo que nos move é em grande parte a falta, é justamente o não ter, o não saber, o não poder, nesse sentido os adolescentes da década de 80, 90 eram mais rebeldes justamente porque existiam mais limites, não tinham a internet e se quisessem ver os amigos, socializar, reclamar dos pais, festejar ou brincar, tinham que necessariamente fazer algo como sair de casa.

Essa mudança é uma das mais importantes no comportamento da geração On demand, eles não precisam mais sair de casa, os amigos por exemplo podem fazer uma chamada de vídeo e assistir a um filme juntos, pelo celular, ao invés de se deslocar até a casa do outro. O não sair de casa vem tornando-se um problema, porque saímos de casa justamente porque aquilo torna-se desconfortável, há uma necessidade de ter o seu espaço para fazer aquilo que você quer, ter suas próprias regras, porém os pais com medo de impor limites acabam deixando a casa um ambiente confortável até demais e sofrem hoje com filhos inseguros pra vida e seguros em casa, que não querem buscar a própria independência.

Insegurança aliás não é uma questão apenas dos adolescentes, essa insegurança na verdade vem de vínculos inseguros, mães e pais inseguros do seu próprio papel e de suas próprias decisões delegam às crianças, muito cedo, decisões que deveriam ser tomadas pelos pais. Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, em sua teoria do amadurecimento, diz que é o ambiente satisfatório que possibilita o amadurecimento da criança e de acordo com a pesquisa isso não têm acontecido, o ambiente familiar não está sendo suficiente para proporcionar maturidade, para ser suporte enquanto o jovem tenta alçar seus próprios vôos.

É difícil dizer se estamos diante de uma mudança positiva ou negativa, o fato é que o modo de viver da geração  On demand ou geração iGen, como sugere a autora, diz para onde estamos caminhando como indivíduos e como sociedade e os índices alarmantes de sintomas psíquicos nos dizem que não estamos conseguindo nos adaptar as mudanças no ritmo em que elas estão acontecendo. Saímos em pouco tempo de uma desconexão para uma hiperconexão, nos encontramos em um momento de extremos, talvez o movimento natural daqui pra frente seja encontrar o equilíbrio entre uma vida conectada e uma vida desconectada.

Essa matéria tem caráter informativo, se você se identificou com algum sintoma procura ajuda profissional de um psicólogo ou psicólogo online

Autora: Danielle Vieira – Psicóloga em Bragança Paulista e São Paulo e fundadora do IIPB, CRP 06/131376.

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