O que está por trás da capacidade de inovar?
Essa foi a pergunta que originou o curso de psicologia da inovação da FIAP ministrado por Fernanda Furia, que faz uma dinâmica apresentação de seu trabalho de pesquisa em inovação aproximando conceitos da psicanálise como o brincar, conceito explorado por D. Winnicott entre tantos outros autores contemporâneos, que aproximam o brincar e o criar como aquilo que nos aproxima do nosso verdadeiro eu, explorando os aspectos psicológicos que favorecem os comportamentos criativos e inovadores. Comportamentos esses que apesar de estarem próximos possuem diferenças importantes, ser criativo não é necessariamente ser inovador, como destaca Fernanda mas para ser inovador é preciso usar da criatividade, portanto para inovar não basta ter uma grande ideia, é preciso colocá-la no mundo, é justamente a aplicação prática da coisa, com alguma utilidade para o mundo, que chamamos de inovação.
A capacidade para inovar parece simples mas ao mesmo tempo reside em características psicológicas complexas que podem ser desenvolvidas desde a primeira infância. Acredito que, todos temos potencial criativo mas nem todos conseguem explorar a ponto de inovar. Uma das maneiras interessantes de fazer essa autodescoberta é também olhar para a dinâmica familiar, traçar uma “árvore genealógica da inovação”, a princípio uma tarefa proposta no curso e que parece simples mas que traz surpresas quando executada, você já parou para pensar e colocar no papel quais os aspectos criativos, inovadores ou empreendedores dos seus pais, avós, tios e até cônjuges? O quanto essa capacidade de explorar, de experimentar e de ousar pode atravessar gerações ou o oposto também, o quanto a falta de contato com esse modo de brincar livre e expandir as possibilidades pode ressoar e te impedir de criar novos caminhos?
O brincar é um tema amplo e complexo que está diretamente ligado à capacidade de criar e inovar. Nos primeiros anos de vida, através dos vínculos afetivos e do brincar, vamos conhecendo as emoções como, medo, ansiedade, excitação, alegria, frustração, vamos medindo os riscos, desenvolvendo a capacidade de tomada de decisões, conhecendo sobre o ritmo, o tempo, a organização, a velocidade, a noção de distância, calculando as possibilidades, criando estratégias, entre tantas outras habilidades sócio emocionais e cognitivas que vão se desenvolvendo, assim como nossa capacidade cerebral vai sendo cada vez mais recrutada, em especial quando brincamos livremente, como cita o neurocientista Panksepp em entrevista para Brain World Magazine:
“A brincadeira corresponde às necessidades cerebrais em um determinado momento da vida, tem uma energia especial que influencia a maturação do cérebro. Estamos negligenciando o poder do jogo natural e da atividade física que toda criança deve ter para amadurecer. Em vez disso, estamos nos concentrando na leitura, escrita ou matemática em idades cada vez mais jovens. Mas se você realmente entendeu o poder da brincadeira, toda criança pode aprender a gostar de matemática. Talvez, se apresentássemos às crianças a matemática de forma lúdica, todas as crianças provavelmente a adorariam.”
É comum que após a idade adulta muitas pessoas comecem a perder essa capacidade de brincar, a vida vai se tornando mais difícil, a rotina vai se estabelecendo, obrigações, boletos, responsabilidades e essa hora lúdica tão importante que temos quando jovens vai também se perdendo. O brincar na idade adulta pode tomar muitas formas, desde a prática de esportes, criar trabalhos manuais, tocar um instrumento, cozinhar, entre outras criações que podem servir não só como escape da vida cotidiana, mas como maneiras de chegar mais perto do nosso núcleo criativo, aquele lugarzinho mais íntimo dentro de nós, maneiras de nos reinventarmos e reinventarmos a vida que construímos.
A capacidade de brincar, o desenvolvimento de competências sócio emocionais e cognitivas parecem estar diretamente ligados à capacidade para inovação, além disso, ambientes favoráveis também são essenciais no desenvolvimento de novas ideias e novos projetos.
Ainda assim, cabe a reflexão: O que te impede de inovar? Fatores internos e externos podem estar colaborando para essa dificuldade de criar novos caminhos e essa é uma pergunta que pode ser mais bem respondida por cada um, a depender de cada contexto, e que precisa de reflexão e muito trabalho.
Texto desenvolvido como resumo da minha experiência no curso de Psicologia da Inovação da FIAP ministrado por Fernanda Furia.
Recomendação de leitura sobre o tema: Psicologia da Inovação: O que está por trás da capacidade de Inovar