Carta aos Psicólogos e Nutricionistas.

Dia 27 de agosto é o dia do psicólogo e dia 31 de agosto o dia do nutricionista, o que essas duas profissões tem em comum? Muitas coisas, mas hoje decidi colocar em debate, alguma questões que vem nos ocorrendo.

Tudo começou em uma conversa nos corredores da clínica, com minha amiga e nutricionista dedicada, ela comentava dos pacientes que tem recebido com sérios traumas e questões de saúde após dietas prescritas por diversos tipos de pessoas por aí, que se autodenominam donos de um saber que não possuem, reconheci naquela fala semelhanças com alguns dos meus pacientes e pacientes de outras psicólogas que chegam depois de algumas tentativas de diversas “terapias” que por vezes causam mais danos do que ajudam.

Continuamos a conversa pensando em como as pessoas cada vez mais tem buscado receitas mágicas para resolver questões que foram acumuladas em anos de vivências e experiências. Pensei, quais seriam os fatores que levam as pessoas a fazerem esse caminho tão difícil e penoso?

– Seria essa cultura imediatista em que estamos submersos?

– Seria justamente uma tentativa de se manter no sofrimento pois sabemos que existe o bom e velho gozo no sintoma?

– Seria a disseminação das redes sociais e o culto aos modelos ideais de ser e de viver?

– Seria uma impossibilidade de confiar em profissionais da área?

– Seria a crença em uma promessa de uma vida plena?

Como psicanalista que sou, (e se tem algo que a psicanálise me ensinou foi justamente sair dessa posição de vítima e ir além), me veio a questão: Tá, mas qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa? (Citação do bom e velho-atual Freud).

Não exatamente minha, mas qual a responsabilidade da nossa classe, psicólogos e nutricionistas, nessa bagunça que parece estar acontecendo na saúde mental e na saúde nutricional?

Minha amiga nutricionista, me falava de blogueiras, influencers, pessoas com formação X que estavam atuando, prescrevendo ou melhor “sugerindo”, porque assim o conselho permite né? Ela também me falava que não eram só eles, mas os próprios colegas nutricionistas também estavam fazendo absurdos por aí, propondo dietas que o mercado gosta, dieta das blogueiras, dietas da moda, com nada de estudo dos nutrientes, sem nenhuma preocupação com o paciente, demonizando certos tipos de alimentos, excluindo nutrientes importantes, tudo isso baseado em 0 artigos científicos mas com promessas de resultados.

A psicologia não fica atrás né? Vemos pessoas de todas as áreas e inclusive sem nenhuma formação se autodenominando “terapeutas”, mas também vemos pessoas formadas em psicologia misturando abordagens, fazendo terapias charlatânicas-consteladoras-reprogramadoras-quânticas-hipnóticas-energéticas-namastê, usando inclusive de nomes sérios e de técnicas de anos e anos de estudos como a própria psicanálise com mais de 120 anos de estudos e desenvolvimento, a terapia cognitivo comportamental, a neurociência, o próprio mindfulness que é uma prática séria e com muito estudo científico, tudo isso com uma pitada de marketing sensacionalista, promessas e mais promessas.

O Charlatanismo existe, sempre existiu e sempre existirá. Longe de ser um protecionismo de mercado porque sabemos que em primeiro lugar, tem gente suficiente pra todo mundo, em segundo lugar é muito comum que após a falências de todas essas técnicas aleatórias para resolução de um conflito, a pessoa tende a buscar um profissional competente. O ponto é que nós, psicólogos e nutricionistas, precisamos, podemos e devemos nos posicionar. É também nosso deve informar e colocar esse tipo de assunto em pauta para a população em geral.

 

Levanto novas questões para pensar:

  1. Aonde estão os Conselhos, além de ganhando bastante dinheiro com as anuidades e fazendo política, e o que exatamente eles poderiam fazer em relação à isso?
  2. Como está a formação desses profissionais da psicologia e da nutrição?

 

Essa segunda questão me intriga bastante, porque tudo parece apontar para uma grave deficiência na formação, além da educação no geral, como estão sendo formados esses profissionais? As universidades realmente se importam com a capacitação e as condutas éticas de cada um ou também temos aí uma máquina que visa muito lucro e pouca qualidade na entrega?

Se você cursar psicologia em outros países (em uma boa parte deles), após a graduação de 3 anos, terá ainda que escolher uma espécie de “residência” que irá te capacitar para a área escolhida por mais 2 anos. No Brasil temos um curso longo de 5 anos com muitos assuntos mas com pouca prática (que começa mesmo no último ano) e pouco foco (de maneira geral, pode haver exceções), tarefas demais – qualidade de menos, mas será que um profissional que sai da universidade está apto a iniciar uma carreira clínica a partir do que aprendeu na graduação, por exemplo?

A minha resposta é: com toda certeza NÃO.  Esse profissional (se for empenhado, e não daqueles que comprou o TCC), provavelmente vai ter que ralar bastante para se capacitar, investir muito, dinheiro e energia na profissão. Para ser um profissional competente não basta formar, não basta abrir um consultório, é preciso desejar, é preciso investir, é preciso estudar, é preciso praticar e mais do que isso é preciso assumir uma responsabilidade e compromisso perante aqueles que sustentam a prática.

O “profissional” que visa somente lucro e glamour cibernético, pode prometer qualquer coisa para obtê-los, e esse, meus caros, é o princípio do Charlatanismo.

Portanto, FELIZ DIA PRA QUEM?

Feliz dia para aqueles profissionais competentes e dedicados que apesar de tantos desafios, se entregam todos os dias e não poupam investimento de energia, tempo e dinheiro para aprimorar seu conhecimento.

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