SOBRE O AMOR E A FALTA

“Pensamos que amamos porque o outro nos completa, mas amamos porque o outro nos faz falta.”

De acordo com o mito de Platão, Andrógino foi o primeiro ser que habitou o mundo e carregava consigo o masculino e o feminino, como se naquele Ser houvesse a fusão de dois seres humanos, porém por inveja que os deuses tinham de seu enorme poder, resolveram dividi-lo em dois, o masculino e o feminino. Andrógino então passou o resto da eternidade buscando sua parte perdida para tornar-se inteiro novamente.

Desde então buscar a “outra metade” a parte que falta, tornou-se essencial na vida do ser humano, como se de fato essa parte perdida pudesse resgatar essa sensação de totalidade, de plenitude, mas será que de fato é no outro que conseguiremos encontrar essa parte perdida?

No início da vida somos inteiros, vivemos a plenitude dentro do útero materno, nada nos falta. Ao nascermos sofremos uma ruptura, um corte físico do cordão umbilical e de tudo aquilo que nos deixava antes seguros e confortáveis, experienciamos uma nova situação, a divisão, a carência, a insegurança de sobrevivência e a dependência de outro ser. Carregamos conosco para o resto da vida essa “lembrança” de que um dia fomos inteiros e assim como Andrógino passamos a buscar nossa parte perdida.

Como encontrar essa parte perdida?

De acordo com Jung essa parte perdida está em nós mesmos, na totalidade de nosso ser, não que sejamos auto suficientes, ou viveremos sozinhos com nosso próprio narcisismo para o resto da vida, mas é através do auto conhecimento que podemos nos tornar inteiros, ou seja, integrar todas as partes que estão ocultas em nosso inconsciente, que estão perdidas dentro de nós mesmos e assim poder se relacionar com o outro de maneira “inteira”, não buscando no outro a sua metade, e sim um outro indivíduo que possa somar.

“Todo amor verdadeiro profundo é um sacrifício. Sacrificamos nossas possibilidades, ou melhor, a ilusão de nossas possibilidades. Quando não há sacrifício, nossas ilusões impedirão o surgimento do sentimento profundo e responsável, mas com isso também somos privados da possibilidade da experiência do amor verdadeiro.” – Jung

Amar verdadeiramente é desconstruir, é perder o ideal de amor. Relacionar-se com o outro de forma inteira, demanda a desconstrução do narcisismo e principalmente a capacidade de emergir do narcisismo.

“Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor.” – Clarice Lispector (Água Viva).

Autora: Danielle Vieira – Psicóloga em Bragança Paulista e São Paulo – SP, CRP 06/131376.

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